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Preço do aço vai cair só no ano que vem

Nem turbulência mundial reduz pressão sobre a cotação do produto, grande vilão dos custos da construção civil este ano Geórgea Choucair Siderúrgicas não conseguem atender rapidamente a demanda do mercado imobiliário, fazendo o preço do aço disparar mais de 40% até agosto O agravamento da crise internacional, que começou a se refletir nas cotações do aço e dos metais no mercado externo, vai estourar no mercado interno só no ano que vem. Isso porque as carteiras de pedidos das siderúrgicas nacionais estão tomadas até o fim deste ano, aos preços atuais. Nem mesmo a queda no valor das commodities (produtos básicos com cotação internacional), acentuada pelo temor diante da turbulência mundial, fez recuar a pressão sobre o preço do aço no varejo. O produto se tornou o grande vilão do mercado da construção civil este ano, com alta média de preço da tonelada do vergalhão de 54,6%, de janeiro a agosto. O recuo no valor das commodities acendeu a esperança das construtoras, lojas de material e distribuidores para uma possível desaceleração do preço. Mas a queda não chegou. “De julho até agora o preço do aço subiu mais de 40%. A demanda está grande e nem o recuo na cotação internacional está ajudando o produto a cair de preço”, afirma Cantídio Alvim Drumond, diretor da área de material e tecnologia do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-MG). A bitola de aço de 10 milímetros, que era vendida para os construtores por R$ 2,53 mil, está chegando ao mercado por R$ 3,63 mil. Além dos reajustes sucessivos, o produto enfrenta atraso na entrega da mercadoria em até três meses. Com a escassez do aço e a escalada de preços, quem paga a conta é o consumidor. O custo da construção, segundo empresários do setor, já subiu até 6% este ano em função da alta do preço do aço no varejo. Se a escalada de preços não for contida e os estoques continuarem escassos, o comprador de imóvel pode preparar o bolso para mais um reajuste de preços ainda este ano. E quem vai sentir mais o peso é o consumidor de menor renda, o formiguinha. A única alternativa que sobra para eles é a loja de material de construção, que está desabastecida pelos fornecedores. “O aço sobe todos os meses. E o prazo de entrega do produto cortado e dobrado, que no passado era de sete a 10 dias, hoje está entre 45 e 90 dias. Estamos atrasando os programas de obra, pois as siderúrgicas só garantem o preço depois que recebem o desenho dos projetistas”, afirma Drumond, que também é superintendente de obras da construtora Castor. O problema da entrega, diz, atinge todas as construtoras. Tanto as pequenas quanto as grandes empresas. “Mesmo para quem pede grande volume está faltando aço. E isso acaba se refletindo no valor final da obra”, observa. O aço representa de 8% a 9% no custo total da obra. Empresários criticam mercado concentrado Uma das grandes barreiras apontadas pelos empresários do setor é a concentração da produção nas mãos de três siderúrgicas: Gerdau, ArcellorMittal e Votoraço (da Votorantim). “O Brasil permitiu que três grupos dominassem a produção de vergalhão de aço. Além disso, foi criada barreira técnica de importação como forma de proteger a indústria nacional”, afirma Rubson Lopes Nogueira, presidente da Associação Mineira dos Distribuidores de Aço para a Construção Civil. Com isso, diz, os distribuidores ficaram reféns desses três grupos. “E o consumidor formiga, com menos renda, paga mais caro. A alta de preço chega primeiro às distribuidoras e depois vai para as construtoras”, observa Nogueira. O vice-presidente de Relações Trabalhistas e de RH do Sinduscon-MG, Ricardo Catão Ribeiro, afirma que não encontra explicação para a alta do preço do aço nos últimos tempos “O preço subiu em momento de queda do dólar. A única justificativa que vejo para isso é o monopólio. E essa situação afeta mais os consumidores de pequeno e médio porte”, diz Ribeiro. O Brasil permitiu que três grupos dominassem a produção de vergalhão de aço. Além disso, foi criada barreira técnica de importação como forma de proteger a indústria nacional O proprietário da distribuidora Disque-Aço, Nilton Brasil, vende cerca de 100 toneladas de aço para a construção por mês. “Se eu tivesse 130 ou 150 toneladas, venderia tudo. Mas eles estão entregando pouco produto. Por mais que as siderúrgicas digam que estão trabalhando em três turnos, não dão conta de fazer as entregas”, diz Brasil. O dono do depósito Estrela D’Alva, José Albino Magalhães, restringiu sua venda para não deixar a freguesia sem produto. “Muita obra está parada por falta de aço. Entrego só quantidade menor para não faltar”, diz. Ele classifica a alta de preço este ano como “vergonhosa”. “No início do ano, o preço da barra de ferro de 10 milímetros na minha loja era vendido por R$ 17,80. Hoje está por R$ 32”, observa Albino. A ArcelorMittal Brasil alega que vem abastecendo normalmente o mercado brasileiro de construção civil. Para manter o atendimento aos clientes internos, a siderúrgica afirma que está reduzindo suas exportações que vão alcançar este ano 20% da produção total, frente à média de 30% nos anos anteriores. Segundo a empresa, toda a cadeia de produção de aço (energia, insumos e mão-de-obra) tem sofrido aumentos de custos, pressionando o preço do aço. O minério de ferro por exemplo, segundo a empresa, teve alta de até 96,5% este ano, enquanto o carvão mineral – utilizado na produção do coque metalúrgico – subiu mais de 250% desde janeiro último. A Gerdau afirmou que tem atualmente capacidade instalada suficiente para atender a demanda do mercado interno e as exportações. Tem ainda programado US$ 4,4 bilhões de investimento no Brasil em expansão e atualização tecnológica até 2010. A Votorantim Siderurgia alega que está investindo na modernização de sua operação em Barra Mansa (RJ) e na construção de uma nova siderúrgica em Resende (RJ), com capacidade para produzir 1 milhão de toneladas.