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Investimentos devolvem vida ao Centro

ANA PAULA LIMA REPÓRTER Um novo Centro está se desenhando bem debaixo do nariz dos belo-horizontinos. Impulsionados por mudanças no coração da capital, como a retirada dos camelôs e a requalificação de praças e ruas, empresários retomam as apostas naquela que já foi a área mais charmosa da cidade. Fazem planos para reformar prédios vazios, investem em antigos hotéis e reocupam pontos comerciais que pareciam condenados ao ostracismo. Estão de olho em bons negócios, mas ajudam a trazer de volta para a região gente interessada em viver ali. E, no embalo, mais movimento, lojas, escolas e serviços, deixando no passado a imagem de Centro degradado. Primeiro, foi a vez do Edifício Chiquito Lopes. A proposta era ousada: reabrir, com fins residenciais, um prédio de 13 andares que durante oito anos ficou lacrado – apesar de fincado em plena Rua São Paulo, quase esquina com Avenida Afonso Pena. Seis meses e 147 apartamentos vendidos depois, o responsável pela reforma já se prepara para três novas empreitadas. Daqui a no máximo 30 dias, espera começar as obras no Edifício Tupis, mais conhecido como Balança Mas Não Cai. E, no início de 2009, quer encher de pedreiros e concreto mais dois espigões da capital. ½O Centro tem um mercado próprio, gente que quer morar lá. Só faltavam as condições”, diz Teodomiro Diniz Camargos. Dono da construtora que reestruturou o Chiquito Lopes e que vai dar vida nova aos corredores do Balança, ele só apostou no filão devido à nova cara do Centro. ½Mesmo assim, quando começamos a mexer no prédio, ainda havia preconceito das pessoas. A mentalidade só começou a mudar quando ele foi lançado”. Mudou tanto que 88% dos apartamentos do antigo prédio da Vale já foram vendidos, ao preço médio de R$ 70 mil. No Balança Mas Não Cai, a idéia é repetir a fórmula. De símbolo do abandono do Centro, o prédio vai se transformar em um conjunto de 68 apartamentos de dois quartos. A fachada original, de 1945, será mantida, mesmo diante de um ½recheio” moderno, com instalações hidráulicas e elétricas novas e gás encanado. ½A requalificação de prédios acontece no mundo inteiro. Qualquer Centro de cidade é muito valorizado. Veja o caso de Paris. Por fora os prédios parecem não ter mudado nada, mas por dentro são superconfortáveis”, diz o empresário. Sobre os outros dois edifícios que a Construtora Diniz Camargos vai assumir, Teodomiro é econômico nos detalhes. Diz que um é obra parada. O segundo, um arranha-céu que nasceu com finalidade comercial, mas que hoje está praticamente entregue às moscas. O empresário não comenta valores da transação. Mas afirma que os negócios, feitos em parceria com grupos paulistas, estão prestes a ser fechados. Os contratos devem ser assinados ainda no primeiro semestre de 2008. Para Teodomiro, prédios vazios no Centro de BH estão com os dias contados. ½Considerando o novo valor urbano da área e a falta de espaço para expansão da cidade, essa ocupação é uma tendência natural”, diz, citando como exemplo um imóvel na Rua dos Caetés que já foi a sede da empresa de ônibus da família dele e que, por tempos, ficou fechado. Recentemente, foi alugado. À beira do Bulevar, mas no centro da disputa De elefante branco a prédio mais que cobiçado. Esta é a situação do Hotel Beira Rio, na esquina da Rua Rio de Janeiro com Avenida do Contorno. O nome soa incomum. Mas a imagem do arranha-céu azul que nunca foi concluído é mais que conhecida. O edifício de 32 andares foi planejado para ser um hotel de luxo, o único com heliponto na capital. Durante anos, ficou à espera de alguém com cacife financeiro para tocar a obra. Agora, com a valorização do Centro, o depositário fiel do imóvel e os herdeiros do falecido dono traçam, em lados opostos, planos para terminar o projeto. Ao que tudo indica, a briga vai para a Justiça. Em um canto do ringue está o comerciante Geraldo Magela Assunção. Arrendatário do prédio por cinco anos e dono do estacionamento que funciona no edifício, ele acaba de assinar contrato de parceria com uma firma paulista, com filial em BH. A idéia é fazer dos primeiros pavimentos um shopping e dividir os andares superiores em um hotel com 200 cômodos e 245 apartamentos residenciais, com 36 metros quadrados cada e preço variando de R$ 58 mil a R$ 62 mil. Outra hipótese é só levantar moradias. O investimento pode chegar a R$ 25 milhões. ½Não tem jeito de dar errado”, diz ele, que se apresenta como depositário fiel do imóvel. A aposta é no interesse de comerciantes dos shoppings populares da região em viver nas unidades habitacionais. ½O prédio tem duas piscinas, sauna, quatro andares de garagem e fica no Centro. São atrativos a mais”. Segundo o comerciante, para a construção deslanchar só falta a Justiça definir quanto será repassado a cada herdeiro de seu antigo sócio, Ferdinando Cardoso, falecido há cerca de dois anos. A previsão é de que as obras comecem em quatro meses. Já os filhos de Ferdinando têm outros planos para o espigão que soma 44 mil metros quadrados de área construída. Dizem que já venderam o prédio, que será administrado junto a uma incorporadora da capital mineira. Metade do edifício seria um hotel e a outra, pontos comerciais. Uma universidade também poderia ser implantada. Os herdeiros não reconhecem o antigo sócio do pai como alguém com direito sobre a propriedade. Um deles, Paulo Cardoso, afirma que as obras vão começar assim que a Justiça analisar as condições do contrato e a forma de pagamento. A retomada poderia acontecer ainda em 2008. Morar mais perto de tudo, opção valorizada Duas horas. Foi quanto o gerente de banco Emídio Marçal Rodrigues Neto, 49 anos, chegou a gastar para sair de casa, no Bairro Caiçaras (Noroeste) , deixar a filha na escola, no Colégio Batista (Leste), e seguir para o trabalho, no Barreiro. Cansado, foi morar no Bairro Floresta (Leste). Viu os transtornos diminuírem, mas ainda enfrentava congestionamentos. Hoje, boa parte da maratona no trânsito faz parte do passado. Há cinco meses, Emídio mudou-se para o primeiro prédio comercial adaptado para residências de BH. E está em lua-de-mel com o Centro. ½Aqui é tudo perto, fácil. Às vezes chego na janela e vejo a cidade borbulhando lá embaixo. E eu aqui, no meu oásis”, diz o gerente, que agora economiza com o transporte, se estressa menos nos deslocamentos e desfruta de facilidades como vários teatros perto de casa, em caminhos que podem ser feitos a pé. Entusiasmado, Emídio também resolveu investir no coração da cidade. Depois de negar duas propostas para alugar o próprio apartamento por R$ 950 mensais, comprou outro imóvel no mesmo edifício. Vai mobiliá-lo e garantir uma renda extra. E já tem interesse em um terceiro imóvel, também para alugar. O endereço? Avenida Amazonas com Rua Tupis, no Balança Mas Não Cai. As mordomias do ½miolo” de BH, recém-descobertas pelo gerente de banco, fazem parte da rotina da aposentada Aparecida Lourdes de Veiga Macedo, 70 anos, há duas décadas e meia. Moradora do 16º andar do Edifício Pilar, na esquina das ruas Guajajaras, Alagoas e Avenida Afonso Pena, ela não desistiu no Centro mesmo quando a região foi invadida por marginais, perueiros e camelôs, e ficou com o visual descuidado. Agora, colhe os louros da escolha. Recebeu – e recusou -uma oferta de R$ 300 mil pelo apartamento da família. ½Foi tentador, mas não compensa sair de perto do supermercado, do comércio, da igreja”, diz a aposentada, que faz do Parque Municipal um invejável ½quintal” de casa – lugar para as caminhadas matinais. ½O Centro melhorou muito. Apartamento vazio, no meu prédio, é alugado na hora. Se é para venda, os próprios moradores dão um jeito de comprar”. A valorização também bateu à porta do Edifício Nossa Senhora do Carmo, na Rua Rio de Janeiro. Um imóvel reformado com três quartos, que custava R$ 110 mil antes da requalificação da região, teve o preço ½inflacionado” para até R$ 150 mil, diz a aposentada Consolação Lacerda, 59 anos. Ela é uma das 36 mil pessoas que vivem no Hipercentro, de acordo com o Plano de Reabilitação da área, feito pela Prefeitura de BH. ½Antes, as barracas dos camelôs quase impediam os moradores de entrar em casa. Com as mudanças, os endereços foram valorizados. No rastro dos prédios, escola e mais comércio A repaginação começou em 2002, com o combate à ação dos perueiros. Em seguida, vieram a retirada dos camelôs das ruas, para cumprir o Código de Posturas, a requalificação das praças 7 e da Estação e das ruas Caetés, Carijós e Rio de Janeiro. No rastro das mudanças, houve a instalação das câmeras de vigilância do Olho Vivo. Numa parceria entre a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL-BH), Prefeitura e Governo do Estado, 72 equipamentos foram colocados no Centro, Barro Preto e Savassi, diminuindo o índice de crimes em 40%. Em 2004, a PM tinha registrado 9.441 ocorrências na área. ½As lojas então começaram a investir mais nas fachadas, passeios e vitrines”, diz o secretário de Administração da Regional Centro-Sul da PBH, Fernando Cabral. A procura por imóveis comerciais aumentou e, de mil lojas fechadas, o número caiu para cem. A oferta de empregos também cresceu, chegando a 12 mil novas vagas. ½Redes comerciais e empresas de call center se instalaram na região central, devido aos salários menores em relação a Rio e São Paulo e ao menor custo com o transporte de funcionários”, diz. Com mais gente circulando, a tendência é de que novos serviços sejam instalados no Centro. Desta vez, nos arredores da Rua dos Guaicurus, na mira das autoridades para perder a fama de baixo meretrício. Dona de um imóvel que há meses ainda era alugado e usado para prostituição, a Santa Casa estuda dar nova destinação ao prédio. Uma das possibilidades é instalar uma pousada para acompanhantes de pacientes. Na Avenida Santos Dumont, a proposta é abrir uma escola pública para Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos bem em frente ao Shopping Caetés. O Secretário municipal de Educação, Hugo Vocurca, visitou o local e está analisando o caso. Já o Centro de Saúde Carlos Chagas, que hoje ocupa um imóvel do Estado na Alameda Ezequiel Dias, também pode ser levado para as imediações da Guaicurus. (A.P.L.) Perfis diferenciados, sem formação de guetos Centro como endereço residencial para a classe média, mas também para trabalhadores de menor poder aquisitivo, com renda entre três e seis salários mínimos. Assim a consultora técnica da Secretaria Municipal de Políticas Urbanas, Maria Caldas, vê o futuro do coração da cidade. A transformação de prédios comerciais em residenciais abriu caminho para que estudantes, profissionais liberais, solteiros e recém-casados se interessem pelas novas moradias. Mas o ideal, sustenta a arquiteta Maria Caldas, é que espaços sejam garantidos também para outras camadas sociais -sem formação de guetos. ½São pessoas que têm o direito de morar perto do trabalho e de desfrutar dessa requalificação, que foi feita com dinheiro público”, diz. A habitação social é prevista no Plano de Requalificação do Hipercentro mas, por enquanto, a prioridade está em reassentar famílias nos bairros. Na opinião do vice-presidente da área imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-MG), Jackson Câmara, a iniciativa privada não vai deixar o filão escapar. ½Há carência de imóveis de média e baixa renda em BH e essa população é deslocada para fora da cidade. Existe demanda para a recuperação de prédios”. Levantamento da PBH mostra que, em 2006, 59 edifícios comerciais ou residenciais estavam vazios ou subutilizados no Centro. O número já diminuiu, mas nova coleta de dados ainda está em andamento. O arquiteto e urbanista Carlos Noronha também vê o Centro como ponto de interação social. Destaca o grande número de equipamentos culturais instalados na região e lembra a reforma do Cine Brasil, mas alerta para a necessidade de reocupação mais rápida de edifícios vazios e para a urgência em diminuir o trânsito de veículos na região. ½A pressa da vida cotidiana impede as pessoas de usufruir do espaço de uma forma mais prazerosa. BH é uma cidade bonita. Se você permitir às pessoas ir ao Centro de forma mais tranqüila, elas vão deixar de andar olhando só para o chão”, diz Noronha, também pesquisador da Fundação João Pinheiro. Comércio fica otimista com as ruas cheias Presidente da Associação dos Comerciantes do Hipercentro, Pedro Bacha só vê vantagens na conquista de novos moradores para o Centro. Diz que a queda na violência e a requalificação do espaço ajudou a devolver para as ruas o público das classes A e B – que está redescobrindo pontos de venda fora dos shoppings centers. Dono de uma loja de colchões na Rua dos Goitacazes, Marcos Inneco Corrêa, diretor do Fórum CDL/ Hipercentro, afirma que o faturamento do negócio quadruplicou em uma década. O mercado enxergou o cenário. O Hotel Financial, na Avenida Afonso Pena, passa por uma reforma completa, que pode chegar a R$ 6,5 milhões – um investimento impensável, tempos atrás. ½Não queríamos perder o bonde da história. Se o Centro se recupera, a cidade fica de olho no Centro”, resume o gerente-geral, César Viana. No Hotel Itatiaia, na Praça da Estação, quartos estão sendo restaurados para aluguel mensal. Algumas unidades já estão ocupadas, depois de o prédio ficar fechado por quase dez anos. Já o Internacional Plaza Hotel, na Rua Rio de Janeiro, entre Avenida do Contorno e Rua dos Guaicurus, reabriu a garagem como estacionamento rotativo na última semana. Um dos donos, Paulo Cardoso, filho do empresário Ferdinando, diz que o interesse é vender o edifício, mas não descarta a reinauguração se conseguir um parceiro.