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Emprego. Mão-de-obra qualificada não acompanha crescimento do setor da construção civil

ALESSANDRA MIZHER Números comprovam que o setor da construção civil nunca esteve tão aquecido. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto, no primeiro trimestre de 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 5,8% se comparado a igual período do ano anterior, a construção civil apresentou um crescimento de 8,8%. Em Minas Gerais, a situação não é diferente. O volume de obras públicas do Estado,como Linha Verde, duplicação da avenida Antônio Carlos, entre outras, e a chegada de grandes empresas para investimentos no aquecido segmento imobiliário da região metropolitana de Belo Horizonte esquenta ainda mais o setor. Entretanto, a situação acende a luz vermelha para um outro aspecto: o da qualificação da mão-de-obra da construção civil. “Apesar do mercado aquecido, existe uma enorme carência de profissionais qualificados para atender a demanda. mão-de-obra desqualificada gera prejuízos e aumento de custos para o construtor. E quanto mais cresce e desenvolve o setor, maior será a falta de profissionais. Isso, é claro, se não houver investimento em formação adequada”, explica Ricardo Catão Ribeiro, vice presidente de política, relações trabalhistas e recursos humanos do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG). Ainda de acordo com Ribeiro, o custo direto do profissional da construção civil, levando-se em conta encargos trabalhistas, como o do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), varia em média de 45%a50%do custo da obra. “Isso revela a importância de se investir em qualificação profissional”, completa. Só na região metropolitana de Belo Horizonte, conforme dados do IBGE, das 2,410 milhões de pessoas ocupadas, 210 mil estão na construção civil, o que representa 8,7%. Especialistas garantem que a escassez de mão-de-obra afeta todos os níveis da construção e ocorre principalmente depois do longo período de “vacas magras” vivido pelo setor, afastando um grande contingente de profissionais da área. Como explica Teodomiro Diniz Camargos, presidente da Câmara da Indústria da Construção Civil da Federação da Indústria de Minas Gerais (Fiemg), a falta de profissionais qualificados também acontece para engenheiros, técnicos em edificação e outros profissionais que precisam de formação específica. “É preciso aproveitar o bom momento e suprir esta carência dentro das universidades”, completa. Qualificação profissional Estratégia. Com o crescimento da construção civil, empresas se preocupam com mão-de-obra especializada ALESSANDRA MIZHER A estratégia de crescimento bem ousada, aliada ao bom momento do setor de construção civil, são responsáveis pelos crescentes números de uma das maiores construtoras do país, a MRV.São mais de 200 canteiros de obras espalhados em 63 cidades. O número de funcionários também reflete o sucesso. A empresa triplicou nos últimos 12 meses seu quadro de empregados — saltou de 4.000 pessoas, em julho de 2007, para 12.340, em julho deste ano. O crescimento não pára por aí. A previsão da construtora é superar 18,6 mil até dezembro. Entretanto, o que para muitas construtoras poderia ser um entrave para o crescimento, para a MRV foi um desafio. O treinamento e qualificação dos funcionários passou a fazer parte da realidade diária da empresa, mesmo nos momentos de pouco desenvolvimento do setor de construção civil no país. “Não chegamos a sentir o problema da falta de mão-de-obra qualificada. Isso porque já vínhamos trabalhando previamente com a formação interna de profissionais. Como o setor estava apagado há muito tempo, conseguimos nos planejar em relação ao futuro. Treinamos nossos funcionários e, hoje, não sofremos com a falta de mão-de-obra, principalmente a qualificada”, revela a vice-presidente de recursos humanos da empresa, Júnia Galvão. De acordo com ela, uma das táticas utilizadas é a formação de profissionais dentro da própria empresa. “Assim, recrutamos funcionários com menor grau de qualificação e investimos em treinamentos internos, seguindo características de trabalho da MRV. Além disso, oferecemos um plano de participação de lucros e resultados, dos cargos de direção até o canteiro de obras. É uma forma de estímulo para que o funcionário se profissionalize e permaneça trabalhando na empresa. Quem investe na gestão de pessoas sai melhor das crises”, completa. A Conartes Engenharia também acredita na importância da qualificação profissional para enfrentar a crise de mão-de-obra do setor da construção civil. Décio Gontijo, diretor de produção da Conartes Engenharia, conta que a empresa tem se dedicado, com freqüência, a cursos internos para formação profissional. “Essa foi uma forma encontrada para mantermos o padrão de qualidade estabelecido pela construtora. Assim, o treinamento para funcionários da empresa é feito seguindo diretrizes internas de padrão e qualidade”, revela Gontijo. Uma outra medida tomada pela empresa é que muitos dos serviços, que antes eram terceirizados pela Conartes, passaram a ser executados nos próprios canteiros de obras como, por exemplo, serviços de bombeiros, eletricistas, entre outros profissionais. “Isso contribui para evitarmos problemas na qualidade ou atrasos com a entrega de serviços. Além disso, passamos a oferecer um leque maior de profissões dentro da empresa para os trabalhadores da construção civil”, explica. CURSO. Conforme Enid Drumond, coordenadora do programa de qualificação profissional promovido pela Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade Fumec em parceria com o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon- MG), opção de trabalho não falta para o profissional da construção civil, principalmente em época de crescimento do mercado imobiliário, o que falta é a formação profissional adequada. “A necessidade de qualificação é cada vez maior e exige muito empenho e comprometimento do profissional.” Oportunidade Fumec oferece programa Quem paga o pato pela falta de qualificação da mão-de-obra na construção civil são as construtoras. E a explicação é bem simples: a falta de conhecimento específico dos profissionais prejudica a qualidade das obras. Como conseqüência, o tempo de entrega dos empreendimentos acaba emperrando o crescimento das empresas. Para as empresas que ainda não pensaram em investir em treinamento de seus funcionários, a solução está nos programas de qualificação profissional como o da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade Fumec em parceria com o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG). O programa da Fumec oferece cursos gratuitos de pedreiro de alvenaria e de acabamento, eletricista instalador e bombeiro instalador predial. O curso acontece a cada semestre, com aulas teóricas e práticas. Para Enid Drumond, coordenadora do programa, a qualificação profissional traz melhorias para todos. Por isso, ela alerta para que as empresas dispensem atenção especial para essa questão. “Os funcionários que passam pelo curso acabam percebendo a importância de uma boa formação profissional e as melhorias que afetam diretamente suas vidas, como aumento de salários e recolocação profissional.” Desde a criação do curso da Fumec, em agosto de 2005, cerca de 350 trabalhadores de construtoras associadas ao Sinduscon-MG já participaram do programa e tiveram a oportunidade de adquirir os conhecimentos. (AM)