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Custo dos materiais de construção pressiona preço dos imóveis e pode impactar programas sociais
Apesar do mercado aquecido, os custos com materiais de construção em alta podem elevar os preços dos imóveis e reduzir os lançamentos das construtoras. Segundo dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro/2021 o custo com materiais de construção cresceu 26,34%. Famílias de baixa renda devem encontrar mais dificuldade para comprar imóveis, já que é esperada uma alta de 15% nos preços das unidades de padrão econômico a serem lançadas este ano. As entidades representativas do setor têm mantido diálogo constante com o governo federal para acompanhar a questão e tentar conter o encarecimento desses insumos.

“Temos nos esforçado para encontrar formas de minimizar os impactos de aumento e desabastecimento de materiais, por meio da busca de subsídios que justifiquem, junto aos licitantes, o reequilíbrio de contratos e diálogo com fornecedores e governo”, afirma Dionyzio Klavdianos, presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Ele destaca também a parceria com a Cooperativa da Construção Civil (Coopercon Brasil) e demais entidades para estímulo da compra coletiva e importação, que, inclusive, teve uma redução no imposto de 14% para 4%. Isso fez com que o volume importado pelo país no primeiro bimestre deste ano fosse quase 100% superior ao mesmo período do ano passado.

Em Minas Gerais, o Sinduscon-MG protocolou uma representação no Procon-MG contra o sindicato de fabricantes de cimento e a ação agora está em processo no Ministério Público. O presidente do Sinduscon-MG, Geraldo Linhares, destaca que a entidade tem atuado fortemente junto à CBIC para buscar solução para esse transtorno. “Nós não ficamos de mãos atadas; estamos lutando para conseguir uma pacificação desses preços. São diversos fatores que estão sendo analisados para que o setor consiga trabalhar, efetivamente produzir e continuar gerando emprego e renda”, afirma. Ele avalia que as empresas precisam ter um cuidado muito grande para não terem prejuízo e cumprir o cronograma de obras. “Esse quadro exige melhor planejamento da obra”, avalia.

O presidente do Sinduscon-MG também alerta que os aumentos de preços podem quebrar o pilar de sustentação de emprego no país, uma vez que a construção civil foi o setor que mais registrou vagas com carteira assinada no ano passado. Em Minas Gerais, foram cerca de 25 mil novas vagas no período de janeiro a dezembro de 2020. “A indústria da construção puxa a economia, irrigando outros setores; por isso, é um dos segmentos vitais para o desenvolvimento socioeconômico do país. Isso pode ser impactado caso esse cenário de alta dos preços persista”, destaca Linhares. “Se for efetivado o aumento de 30% no preço do vergalhão de aço, noticiado recentemente, o insumo terá aumentado cerca de 100% em menos de um ano. O impacto, portanto, é generalizado e arruína o planejamento financeiro de qualquer empresa, independentemente do porte e segmento em que atue”, complementa Dionyzio Klavdianos.

Nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro/2021, segundo dados do Sinduscon-MG, o custo de alguns materiais tiveram aumentos exorbitantes. Os fios de cobre, por exemplo, alcançaram 91,26%. Já o preço do aço aumentou 75%, e o de cimento, 50,79%. Além da alta nos preços, o setor também enfrenta problemas de abastecimento. Aço, cabos elétricos, louças, metais, esquadrias de alumínio e tubos de PVC são os que lideram o ranking em termos de maior prazo de entrega. O cimento, por exemplo, que era entregue em até 48 horas, hoje demora cerca de 30 dias. Já o aço e materiais elétricos agora levam entre 60 e 90 dias para serem recebidos. “Dependendo do produto, pode demandar ainda mais, chegando a 150 dias”, explica Linhares.

Programas sociais
Com a alta dos custos e problemas de abastecimento, a tendência é que os preços dos imóveis também aumentem. O impacto já começa a ser sentido no programa Casa Verde e Amarela, segmento mais afetado pelos aumentos, em função de suas margens, que são menores, e por possuir teto para contratação. “Os produtos econômicos, que são a primeira faixa do Casa Verde Amarela, devem sofrer um aumento em torno de 15%. Uma propriedade que custava R$ 130 mil vai ser reajustada para cerca de R$ 150 mil”, exemplifica Linhares. “Por mais que possam ser repassados aos clientes, os aumentos sucessivos e inesperados não interessam a nenhuma das partes e podem levar à redução na velocidade de vendas e até à desistência de clientes”, complementa o presidente da Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade da CBIC.

Esse cenário, além de dificultar ainda mais o acesso dos brasileiros à tão sonhada casa própria, também pode impactar de forma negativa os lançamentos previstos. “Em função disso, o mercado deve lançar poucos empreendimentos nos próximos meses”, analisa o presidente do Sinduscon-MG. Dionyzio Klavdianos aponta que esses aumentos trouxeram dificuldades para os construtores que fazem vendas antecipadas de imóveis com os preços pré-fixados, por meio de financiamentos. “A situação é mais impactante nesse segmento, pois a margem é muito pequena e não há reajuste nas parcelas.”

Oferta está baixa
Os dados do Sinduscon-MG mostram que as vendas continuam superando o volume de lançamentos, o que tem levado o estoque disponível para comercialização aos menores patamares históricos. O setor encerrou 2020 com um alta de 0,89% no número de lançamentos na comparação com 2019. Apesar de positivo, no mesmo período observa-se que o número de imóveis novos vendidos subiu 22,66%. Isso significa que enquanto em 2020 foram vendidas 4.212 unidades, os lançamentos totalizaram 2.940. “A estimativa era de que os lançamentos represados, a princípio, pela pandemia, retomassem com maior força, mas as construtoras ficam receosas em relação à instabilidade dos custos, que tem registrado altas elevadas. Esses aumentos de preço de insumos geram uma insegurança para o incorporador, o que pode deprimir mais o patamar dos lançamentos e comprometer a oferta, que já está muito baixa (abaixo de 2.500 unidades)”, analisa o vice-presidente da Área Imobiliária do Sinduscon-MG, Renato Michel.