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Casas antigas dão lugar a imponentes edifícios em Lourdes

Jáder Rezende Repórter A dona de casa Alda Martins Vaz, 80 anos, lembra com saudades da época em que o Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, tinha apenas casas, as ruas eram calçadas com paralelepípedo, o córrego do Leitão ainda transbordava e todos os moradores se cumprimentavam cordialmente, “como se fosse uma grande família”. Dona Alda mora há mais de 60 anos em uma casa da Rua São Paulo – a única que restou do quarteirão -, onde criou seus dez filhos. Somados aos 17 netos e quatro bisnetos, sua casa fica sempre cheia. Com o passar dos anos, as belas casas, construídas com esmero, deram lugar a imponentes edifícios residenciais. Outras se transformaram em antiquários, restaurantes e butiques sofisticadas, e os paralelepípedos foram encobertos por camadas de asfalto. Contudo, apesar da alteração radical do perfil do bairro, seu charme permanece inabalável. O bairro mais valorizado de Belo Horizonte, com imóveis que ultrapassam a casa dos R$ 3,5 milhões, abriga ainda os principais e mais belos espaços livres da cidade, como as praças da Liberdade, da Assembléia e Marília de Dirceu. Lourdes integra o traçado do projeto original de BH, desenvolvido para que a cidade tivesse a área urbana limitada pela Avenida do Contorno. Hoje é um dos bairros mais cobiçados e valorizados da capital. Dona Alda que o diga: “O que não faltam são corretores de imóveis me assediando diariamente. Para se ter uma idéia, recebo, em média, seis ligações por dia dessa gente. Mas a resposta é sempre a mesma: um sonoro não”, conta. A casa de dona alda possui jardim, um amplo quintal e, na parede da sala de jantar, o velho cuco ainda anuncia as horas, como há mais de meio século. “Aqui é meu refúgio, meu porto seguro. Com o passar do tempo as coisas foram mudando. As ruas eram mais arborizadas, tinha até postes no meio delas. Aliás, meus filhos e netos foram criados brincando na rua, jogando bola, sem a preocupação que os pais têm hoje, e com toda razão”. Embora sua fundação oficial tenha ocorrido em meados da década de 1930, Lourdes começou a surgir bem antes, sobre a proteção da Basílica de Nossa Senhora de Lourdes, inaugurada em 1923. Depois, outras obras marcantes foram erguidas, como o estádio do Clube Atlético Mineiro, no final da década de 1920, e o Minas Tênis Clube, em 1937. Reza a lenda que o bairro teria sido criado para abrigar as classes mais abastadas da nova capital de Minas que, inicialmente, haviam se estabelecido no Bairro Cidade Jardim, também na região Centro-Sul, que já estava saturada. A empresária Lúcia Moutinho, 58 anos, filha de dona Alda, recorda, “como se fosse ontem”, o dia em que o pirulito da Praça Sete foi transferido para a Praça da Savassi, levado em uma velha caminhonete, para dar lugar aos cabeções dos vultos históricos que fundaram a cidade e que hoje repousam no Parque Municipal. “Ficamos horrorizados com aquela mudança. Desde então, a cidade foi sendo descaracterizada ano após ano, mas Lourdes mantém seu charme, a despeito da força da grana que ergue e destrói coisas belas”, diz. “Quando crianças aqui era um verdadeiro paraíso. Íamos a pé para a escola, circulávamos livremente e com segurança pelas ruas”, recorda. A administradora Luciana Vaz Moutinho, 28 anos, neta de dona Alda, espera criar seus filhos no mesmo bairro, que considera o local ideal para se viver. “Mesmo com toda a agitação característica das cidades grandes, aqui em Lourdes a gente se sente seguro. Além disso, estamos cercados de todo e qualquer tipo de serviços, sem contar a infinidade de opções de lazer, bons restaurantes, bares e, lógico, butiques de primeira linha”, diz. A psicóloga Maria de Lourdes Oliveira, 50 anos, é mais uma moradora que não esconde sua paixão pelo Bairro de Lourdes, mas se diz ressentida com o processo acelerado de verticalização. “Como se não bastassem as inúmeras obras que descaracterizam o bairro, as calçadas não oferecem a mesma mobilidade de outrora”, lamenta. De acordo com a assessoria da BHTrans, depois de intervenções importantes promovidas no ano passado, como o alargamento do acesso à Avenida Prudente de Morais pela Avenida Contorno, tratamento da travessia de pedestres e rebaixamento de calçadas no mesmo trecho, neste ano foram promovidas intervenções na travessia de pedestres e implantação de semáforo na interseção das ruas Marília de Dirceu com Felipe dos Santos.